quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Aviso:

Por causa da falta de tempo que meu trabalho tá me impondo - quem trabalha em indústria e convive com horas extras fora de hora sabe do que eu falo, infelizmente - essa semana eu fico sem postar. Mas até sábado, estarei de volta, tenho o meme da Miriam pra terminar, rs. Abraço!

sábado, 13 de setembro de 2008

O Cinema e a Música - Parte I



Quantos musicais você conhece? Provavelmente dá para contar nos dedos da mão, certo? E mais provavelmente ainda dá pra contar nos dedos de uma mão só. São pouco conhecidos, pouco divulgados, mas isso apenas nessa nossa 'era moderna'. Há alguns anos atrás, o gênero musical cinematográfico era um dos maiores filões dos estúdios.

O maior expoente de uma fase áurea desse tipo de filme, nas primeiras décadas do cinema a cores, é Cantando na Chuva, com Gene Kelly. A cena em que ele canta e dança com seu guarda-chuvas a música-tema do filme está na História do cinema. Mas você, caro leitor, já parou para pensar que Singin' in The Rain é um marco na história da música? Vendeu horrores, e até hoje é lembrada. Mas não como música, isoladamente. Mas sim pela seqüencia acoplada a cena do filme.

Mais à frente, nos anos 70, temos, entre outros famosos musicais, as famosas 'óperas-rock', e o maior representante desse gênero na sétima arte foi Tommy. Dirigido por Ken Russell, o filme é baseado na música do mesmo nome, do grupo The Who. É uma época de grandes transformações no imaginário cultural no mundo todo, e tanto na tela grande quanto no toca-discos conseguiram captar a essência de toda aquela efervecência à flor da pele. Era a época do 'glam', do ousado, como David Bowie, Queen, entre outros. No cinema, filmes como o já citado Tommy, Woodstock - O Filme, e o maior clássico da época: Os Embalos de Sábado a Noite, que pertence a metade final da década, e que trouxe o aure à era disco e a (praticamente) descoberta de Bee Gees, Gloria Gaynor, ABBA e outros.

Nos anos 80, os filmes musicais saíram de cena, praticamente deixando de ser produzidos. Vieram então as trilhas sonoras, dando ênfase a uma determinada canção de um filme. Bons exemplos estão em Ghostbusters, de Ray Parker Jr., trilha do filme Os Caça-Fantasmas; Glory of Love, do grupo Chicago, tema de Karatê Kid; La Bamba, de Ritchie Valens, do filme La Bamba... entre tantos outros, isso sem contar as trilhas propriamente ditas, de maestros como John Williams, Jerry Goldsmith, e o aparecimento de novos nomes como os de Danny Elfman, Randy Newman, James Newton Howard, etc.

Os anos 90 continuaram no mesmo caminho, tendo em trilhas como a de Ghost - Do Outro Lado da Vida (Unchained Melody, canção que se tornou imortal com The Righteous Brothers), Titanic (My Heart Will Go On, de Céline Dion), O Sonho Não Acabou (That Thing You Do, do The Wonders), e nas composições orquestradas em filmes como Amistad, Forrest Gump, entre outros, o maior expoente musical dentro di cinema. Isso até a chegada de Moulin Rouge - Amor em Vermelho, filme dirigido com maestria por Baz Luhrmann com Nicole Kidman e Ewan McGregor no elenco. Esse filme trouxe de volta, por um breve momento, uma certa fase nostálgica quanto aos musicais, tendo músicas memoráveis como A Fool to Believe, Come What May, entre outros. Nessa fase, o auge veio com o musical Chicago, que em 2002 arrebatou 5 prêmios Oscar, incluindo o de Melhor Filme. Dirigido por Rob Marshall e tendo como protagonistas Renèe Zellwegger, Catheine Zeta-Jones, Richard Gere, a canção-tema I Move On é considerada um marco desse estilo, alçando o filme para o status de obra indispensável, e o CD com sua trilha sendo obrigatório para qualquer amante de música.

Hoje em dia, o gênero novamente saiu de moda, dando-se mais importância às músicas que compõem a trilha sonora. Mas o mais importante é constatar que a magia do cinema não funciona sem uma trilha adequada, que nos transporte para a emoção das cenas, e para que nós possamos nos divertir e nos deleitar com as jóias que sempre aparecem desse gênero.

domingo, 7 de setembro de 2008

A volta de Rambo - e desse texto também




"Os filmes de ação atuais sempre me pareceram muito modorrentos. Com a exceção da trilogia Bourne - e em especial os dois últimos, dirigidos pelo extremamente competente Paul Greengrass - nenhum outro filme me chamou muito a atenção. Eis que de repente, nosso querido bombadão Michael Sylvester Gardênzio Stallone resolve voltar à ativa, 'ressucitando' velhos ícones do passado. Começou no ano passado com o quinto filme da série Rocky (cujo primeiro filme, escrito e estrelado por ele, lhe rendeu sua única indicação ao Oscar de Melhor Ator e outra para seu roteiro), que até que foi bem recebido pela crítica. Mas quando ele anunciou estar trabalhando na volta do ex-boina verde John Rambo, os marmanjões fissurados em violência descerebrada ficaram todos arrepiados: um ícone estava para voltar!

E hoje esses saudosistas, somados a nova geração que não conhecia a saga 'rambolística', estarão sentados nos cinemas brasileiros prontos para uma sessão de pancadaria, sangue e táticas extremas de guerra. Pois muito bem, como humilde mortal conhecedor dos filmes estrelados pelo personagem durante os anos 80 (não que eu seja velho, mas meu irmão maior é fanático por Rambo), fui conferir e trago agora as minhas impressões. Os fãs podem ficar tranqüilos, pois o filme vai agradá-los em cheio: sanguinolento, violento, que prende mesmo."


Os dois parágrafos aí de cima eu escrevi em fevereiro, muito antes de começar a pensar neste blog. Eu estava na minha época de hiato, de crise criativa, fiquei tempos sem terminar um texto. Como esse. E durante esse tempo, vim retocando esses parágrafos, sem terminar o texto. O fato é que eu tinha me empolgado com Rambo IV, quando o vi no cinema e tenho medo de minha própria empolgação. Passado tanto tempo, revi o filme e, surpresa!, continuei empolgado.

Eu sei que muita gente torce o nariz para a série do Rambo, e para o próprio Stallone, que de tanto dormir ao lado da própria fama, acabou se acostumando e mergulhando em projetos ridículos que em nada lembram o grandioso e inspirador Rocky, vencedor do Oscar de Melhor Filme. Mas não tem como negar que essa volta veio em boa hora. Depois de reviver seu melhor personagem em Rocky Balboa, Stallone resolveu partir pra guerra. Meteu o Rambo lá no meio do mato em Birmânia e deu a ele uma alegre coloração avermelhada. Do sangue de seus inimigos.

Assistir a essa hora e meia de filme não remete em nada aos filmes anteriores (tirando o pioneiro, todos fracos). Este aqui é praticamente um massacre, coisa pra gente de estômago forte. E nunca achei que Stallone voltasse a ter sucesso como diretor. Como roteirista ele é medíocre, na minha opinião, só acertando com Rocky I; mas na direção ele simplesmente me surpreendeu. A primeira meia hora é composta de explicações nem sempre inteligentes ou pertinentes, mas logo depois ele aceitar o seu destino (frase clichê de hoje), começa o banho. E é isso que diverte. Até pelo fato de ser tecnicamente estonteante, muito bem feito. Expõe a guerra com coragem, mostrando o infanticídio, o genocídio, a pedofilia em regiões pobres, como a citada Birmânia. É aterrorizante. E nada como ver John Rambo acabando com um exército inteiro sozinho, arrancando o pescoço de um indefeso soldado usando apenas as mãos, fazendo coisas que nem McGyver sonhou fazer.

Logicamente, há limitações. O Rambo está velho e com a cara caída (dizem que é por causa dos hormônios que ele tomou para se preparar para o filme, vai saber...), a história tem buracos maiores do que os das estradas do interior de São Paulo, mas fã que é fã nem liga pra essas coisas, que se tornam ralos quando o herói entra em ação. Eu, particularmente adorei. Vi algumas vezes e pretendo ver mais outras. E nem é só pela crueza e maestria com que Stallone conduz seu personagem e o filme como um todo, mas sim porque até mesmo essas nostalgias nos faz bem, é sempre bom rever personagens marcantes retornando. Mesmo que isso evidencie a falta de criatividade na qual Hollywood está mergulhada nos dias de hoje.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Crazy Little Thing Called Love, in Paris



"Ama-me menos,
mas me ame por muito tempo".


No fundo, eu sou um sentimental. Desde pequeno que eu sempre fico paralisado a ver filmes assim, um tanto quanto românticos, apesar de dizer, numa conversa há poucos dias com um amigo meu, que não consigo mais ver os romances água-com-açúcar hollywoodianos, daqueles estrelados pela Meg Ryan, sabe quais são? Então. Mas se passa Cidade dos Anjos eu páro o que estiver fazendo. Logo, sou uma contradição. Até mesmo em expôr sentimentos: por fora sou reservado, fechado para demonstrar afeto, como bom descendente de alemães. Mas há uma mistura de paixão espanhola com o sentimento forte italiano. Herança do Sampaio (espanhol) Oliveira (português, que nada tem a ver com a história) que tá na minha certidão de nascimento.

Disse tudo isso porque hoje, em minha folga de meio-de-semana, eu resolvi botar a rodar no DVD um filme que me foi enviado, pelo correio, pelo sábio Renato, grande pessoa. Eu estive uma semana inteira sem ter tempo nem pra respirar direito, tendo que trabalhar de dia e me virando em reuniões à noite, tentando convencer os candidatos a prefeito daqui a investirem mais na cultura, cinematográfica e teatral. Sendo assim, somente hoje pude conferir o que continha aquele DVD. E, uma hora e meia depois, me sento em frente a este computador. Para falar um pouco do filme, mas para falar de amor também. Culpem Canções de Amor, filme francês dirigido por Christophe Honoré, e que agora figura entre meus musicais favoritos.

Não há como explicar a história sem passar um pouco de spoiler, que você, que lê meu texto agora, me perdoe: tudo começa com um menàge a trois em Paris.

Espere. Tempo.

O sonho de qualquer polígamo é ter um menàge a trois em Paris. Cidade propícia a namorados e a [des]amores. Paris é a cidade-modelo, a cidade fotogenia, fica bem até em filme pornô. Não tem sujeira, não tem nada que fique feio na tela. Até o mendigo, que dorme ao relento, fica bonito nas ruas de Paris. Pronto, falei.

Então. Acontece que, desse triângulo amoroso, uma das partes (é um rapaz e duas moças), uma das moças acaba tendo uma morte súbita. E o filme parte daquela coisa de como lidar com o sentimento de perda e reencontrar o amor. Como diz uma personagem do filme, "cada um lida com a dor à sua maneira". E é. Principalmente quando se trata de assuntos do coração. O amor pode ser a coisa mais bonita do mundo, mas é a mais perigosa, visto que um romance pode dilacerar qualquer bom sentimento que more na alma de alguém. O amor pode destruir, o amor pode acabar com os sonhos e a perspectiva de um bom futuro. Ao mesmo tempo em que pode ser uma coisa maravilhosa, uma coisa linda, uma coisa ótima. No caso aqui, Ismael - esse é o nome do rapaz - acaba encontrando um outro rapaz, gay, e a partir daí sua vida começa a tomar outro rumo, mesmo tendo contato com a família da falecida namorada e com a outra, a terceira parte do triângulo.

Dividido em três momentos ("A Partida", "A Ausência", "O Regresso"), Honoré conseguiu fazer aqui um musical perfeito. Ah, esqueci de informar a quem não sabe, o filme é um musical, com maravilhosas músicas compostas por Alex Beaupain, vale procurar na internet) e com um ar que lembra muito a nouvelle vague. Fora a coragem de expôr temas tão díspares (poligamia, relacionamentos homossexuais e bissexuais, etc) com uma leveza de espírito que nem o mais recatado conservador resiste. E é concebido com poesia pelo diretor Honoré, que usa com sabedoria as paisagens naturalmente cinematográficas da cidade-luz, com a ajuda, claro, do diretor de fotografia Rémy Chevrin, que faz um trabalho acinzentado e nebuloso, como pede o enredo. É bonito e pronto.

Não há, em Canções de Amor, um momento em que você não acredite na verdade das situações. Muita gente se pergunta: "É possível amar duas pessoas ao mesmo tempo?" ou "Será que alguém, hétero, pode sentir atração, um dia, por um homem?". Nesse filme, essas perguntas, carregadas de preconceito embutido, não existem; assim como na vida. Porque no coração ninguém manda, as coisas acontecem e fluem naturalmente, sem forçar. E essa é a beleza do filme em questão, pois acreditamos que todas aquelas cenas poderiam estar acontecendo ali, na casa do vizinho. Ou mesmo no quarto ao lado. Por que não?

E, claro, um filme falado e cantado em francês tem seus encantos, é quase impossível resistir. Fazia um tempo que eu não via cinema francês, o último que tinha visto foi Medos Privados em Lugares Públicos (de Alain Resnais, e é um porre). Foi uma grata surpresa ter recebido esse DVD em casa, ainda mais no momento delicado que venho enfrentando na vida pessoal; e, para me ajudar até nisso, a frase-ícone do filme virou o epípeto desse meu texto.

E, só pra encerrar, Canções de Amor me fez ver que não há coisa mais bonita, coisa mais louca e mais bela do que esse coisinha doida chamada amor, que mais parece uma reação alérgica: ao sentir pela primeira vez, você sabe que vai passar por aquilo pelo resto da vida, querendo ou não.

Canções de Amor
(Les Chansons D'Amour)
Musical, 2007
Roteiro e direção de Christophe Honoré
Elenco: Louis Garrel, Ludvine Sagnier, Chiara Mastroianni, Clotilde Hesme, Gregóire Leprince-Ringuet
Música e Letras de Alex Beaupain
Direção de Fotografia por Rémy Chevrin

Montagem por Chantal Hymans