sábado, 16 de agosto de 2008

Refazendo o Contato




Me lembro perfeitamente de quando tinha SKY em casa, pegava HBO se não me engano. Hoje em dia esses canais são muito mais populares, o acesso a TV por assinatura agora é bem maior do que em 1998, época em que eu tinha a famosa "anteninha". Hoje não tenho mais nada, além do meu DVD com a TV no quarto, porque me recuso a ver os canais, não gosto, perdi a vontade. Mas era legal. Era uma época interessante porque eu tava descobrindo minhas vocações e minhas preferências. Ouvia Legião Urbana como um louco, via quatro filmes por dia e tava começando a minha vida amorosa. Isso com doze anos. Era uma loucura, e eu adorava.

Continuando. Lembro, com igual perfeição, que tinha acabado um filme qualquer na programação do citado canal (filme este que eu não me lembro, he). Aí veio aquela chamadinha sobre o filme que passaria a seguir: era um com a Jodie Foster, que eu conhecia só pelo "O Silêncio dos Inocentes". E era do Robert Zemeckis, diretor de um filme que adoro até hoje, "A Morte Lhe Cai Bem", sem contar "Forrest Gump" e a trilogia "De Volta para o Futuro", clássicos que entram fácil em qualquer lista de viciados em cinema. Me chamou a atenção, resolvi faltar ao treino de futebol pra ficar e ver o filme que, além de tudo, era sobre alienígenas! Pensei "Que legal!" e fiquei. O filme chamava-se "Contato".

E assim que o filme acabou, tive a sensação de ter participado de uma viagem. Uma viagem psicodélica. Na época que era cru em relação a técnicas de cinema, não sabia quase nada. Mas achava o máximo o jeito como o filme tinha sido filmado, e pensava com meus botões que o Zemeckis era um gênio, que o filme era excelente e que era um dos filmes da minha vida.

Passaram-se longos anos até o reencontro. Andando pelas Lojas Americanas (uma das minhas fornecedoras de filmes pra coleção, acho que a maioria compra lá também), dei de cara com o filme a R$12,99. E pronto. Agarrei com as duas mãos e corri pro balcão, junto com os outros dois que eu já tinha escolhido: "A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça" e "O Sexto Sentido". Cheguei em casa, liguei a televisão e o DVD, botei o disco na bandeja e apertei o botãozinho para fazê-lo entrar no aparelho. E tive, novamente, a sensação de viagem psicodélica que tinha me dominado anos antes.

Existem várias qualidades em "Contato". E a maior delas é a competência da realização e a sinceridade da história. Robert Zemeckis adaptou o livro de Carl Sagan - que eu comprei em 2000 e é um dos meus favoritos - com fidelidade, ao mesmo tempo em que aplicou a sua marca registrada, que é a ousadia. Existem cenas com steadycam que me deixam de boca aberta até hoje, a forma como ele "acompanha" os personagens e os dá vida. Deu forma às idéias de Sagan, que morreu durante as filmagens, e os melhorou. Claro, com a ajuda do competente elenco, encabeçado pela ótima Foster e pelo Matthew McConaughey, a então promessa de Hollywood. Tendo ainda Angela Basset, William Hurt e James Woods. Não tinha como falhar.

Contar a história de uma cientista que consegue captar um sinal de vida vindo de outro ponto da galáxia, e que consegue interpretar essa mensagem e descobrir nela o projeto de uma máquina que pode transportar humanos para outro ponto do Universo, entrando em contato com vida inteligente fora da Terra... uma história criativa e envolvente, até pelo desafio ciência x fé, encarnado no personagem de McConaughey, um teólogo com quem a personagem de Foster se envolve. Mas mais que isso: o filme também trata de perseverança, de alcançar seus objetivos e seus sonhos mesmo quando tudo está contra, como faz a Jodie Foster nesse filme. E também não responde a perguntas como 'Será que estamos sozinhos?', mas sim nos coloca outras, como 'Por que estamos aqui?'. Fascinante, perfeito.

Tecnicamente competente, o filme teve apenas uma indicação ao Oscar, de melhor som, em 1998, e uma indicação a melhor atriz no Globo de Ouro. Injusto. Deveria ter mais indicações técnicas, até mesmo em efeitos visuais, que Zemeckis sabe usar tão bem, sem exageros. E a linda trilha sonora de Alan Silvestri. Independente disso, "Contato" já tem um lugar de honra na minha [cada vez maior] coleção de DVDs, até por me jogar nas lembranças de um passado muito interessante, onde eu estava descobrindo tudo sobre o cinema e sobre a vida. E, além disso, depois de comprar e rever o filme, tive ainda mais certeza de que, se não houver vida inteligente fora da Terra, será realmente um tremendo desperdício de espaço.

3 comentários:

Anônimo disse...

Você me deixou com uma vontade tremenda de revê-lo. Admiro ambos diretor e elenco e pretendo fazer isto em breve. Gostei do filme, mas seu texto tocou em temas interessantes que não prestei tanta atenção quando o vi faz alguns anos.

Ciao!

Renato disse...

eu ia dizer basicamente a msm coisa que o Wally disse ._.

Gustavo H.R. disse...

Um filme inteligentíssimo, que é espetacular sem ser espetaculoso ou afogado nos efeitos. Só a parte final já subverte nossas expectativas quanto a ficções científicas holywoodianas.
Por falar em Globo de Ouro, prefiro essa atuação de Foster à dela própria em SILÊNCIO (onde também estava soberba).
Se a Academia preferiu fazer vistas grossas, nós é que fazemos justiça a essa que é uma das melhores fitas do gênero da década passada.